sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Não é Utopia, é Cidadania!



A criminalidade que nos atinge hoje é tão complexa que a melhora de qualidade de vida ou uma limpa nos morros é um gesto pouco válido para a diminuição do crime. Pode sim, ajudar as classes mais baixas a não entrar e/ou permanecer no crime, promovendo uma nova expectativa de vida para os menos favorecidos. Mas, acreditem, no crime há sempre quem invista nele.
O tráfico de drogas, contrabando de bens materiais, cadáveres, mulheres, crianças, órgãos, roubos de capitais consideravelmente altos são em geral (pra não dizer ao todo) comandados por pessoas de poder aquisitivo relevante e de escolaridade completa.
Não livrando os bandidos de suas culpas, mas se há mercado eles vão vender mesmo. Porque quem colabora com o tráfico é a própria população usuária, que sabe que é ilegal. Que sabe que faz mal. Infelizmente, invés do cidadão tomar uma postura correta em relação a isso, contrata a mílicia para protegê-lo de possíveis impasses com os traficantes, mas continua contribuindo para o tráfico com o uso da droga. É claro que mesmo se não houver o consumo de droga e seja extinta qualquer mercado consumidor nessa área, os grandes e verdadeiros mafiosos sempre vão dar um jeitinho de sair ganhando. Buscarão sempre outros meios para corromper. Sempre haverá algo para contrabandear desde objeto a pessoas e sempre conseguirão muito lucro com isso.
Mas há chance de isso acabar? Apesar das chances remotas de alguma mudança nesse emaranhado que o crime organizado se transformou, há algumas medidas que podem ao menos amenizar essa situação.
Pra começar: CIDADANIA. A cidadania não é só votar, não é só exigir direitos. É isso também, mas vai além. A cidadania são pequenos (ou grandes) atos feitos no dia-a-dia. Não furar fila, respeitar que aquela cadeira ali na frente no ônibus é dos idosos, mulheres grávidas ou deficientes, não é pra você pessoa jovem, saudável! Não jogar lixo nas ruas. Não comprar produtos ilegais, já que na compra você está sendo tão criminoso quanto quem vendeu, pois está contribuindo para o tráfico de objetos pirateados. Enfim, se todos agíssimos corretamente, dentro das regras muitos problemas sociais seriam resolvidos pela própria sociedade, sem transferir sempre a responsabilidade para os governantes. Cada cidadão tem seu direito para defender, mas apenas se o dever estiver cumprido.
Enfim, se começarmos pelo uso constante e ininterrupto da cidadania, outras ações viriam. Afinal, cumprindo nosso dever, podemos exigir o direito de que a justiça seja feita verdadeiramente, que os bandidos sejam punidos e não apenas alertados da punição. Poderíamos exigir a fiscalização adequada em todos os focos da criminalidade.
Parece utopia, mas a verdade é essa. Se cada um se tornar um cidadão, o nosso país pode se tornar uma nação*.




*Só pra constar:

nação
na.ção
sf (lat natione) 1 Conjunto dos indivíduos que habitam o mesmo território, falam a mesma língua, têm os mesmos costumes e obedecem à mesma lei, geralmente da mesma raça. 2 O povo de um país ou Estado (com exclusão do governante). 3 Sociol Sociedade politicamente organizada que adquiriu consciência de sua própria unidade e controla, soberanamente, um território próprio. 4 O governo do país; o Estado. 5 País, território habitado por um povo em condições de autonomia política. 6 A pátria, o país natal. 7 Espécie, comunidade, grupo de indivíduos (animais ou pessoas) que têm caracteres comuns. 8 Raça, origem, casta. sf pl Bíblia Os gentios, os pagãos.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

(in)Feliz Natal



Era mais uma noite de Natal.
José estava embriagado no bar mais uma vez. Mais uma noite, em mais uma noite de Natal.
Gabriela esperou seu marido inutilmente para uma ceia, que ela tão caprichosa havia preparado a tarde inteira. Filipe chorava em um canto escondido, não queria que mamãe visse que ele também sofria. Afinal, na falta do pai, quem era o homem da casa era ele.
Uma história batida, mas comum em muitas famílias brasileiras: José, desempregado, não arranjando emprego, arranjou um vício pra passar o tempo: o álcool.
Há tantas coisas pra se viciar que são bem mais prazerosas e por que não dizer "proveitosas". Um vício por fotografia, um vício por leitura, um vício por artesanato. Infelizmente, José escolheu o álcool. Ele que desde pequeno disse que nunca seria como seu pai "um bebum fracassado" acabou repetindo a mesma história. Por opção, não por obrigação.
De qualquer forma Gabriela já não queria aquilo. Já não queria aquela casa, já não queria aquelas coisas, já não queria o marido, e (hesito em dizer isso, porque como pode? Ela ser mãe e...) já não queria o filho. Ela queria outros mundos, outras pessoas, outros carnavais. Outros natais.
No dia 25 de dezembro, exatamente a 00:01, Gabriela partiu sem dizer adeus. Não procurou o filho que estava em algum canto da casa, arrumou suas malas e partiu. Deixou apenas um bilhete para José, que Filipe leu assim que ouviu que alguém saia na porta.

No dia 25 de dezembro, exatamente a 10:36, José chega embriagado. Filipe faz-lhe um café forte, nem sabendo muito bem como fazer, enquanto o pai tomava um banho frio. José adormece.

No dia 26 de dezembro, exatamente 08:14, Filipe entra no quarto do pai, encara-o, suspira e diz:
- Você só tem mais uma chance para cuidar de mim.

Filipe só tinha 8 anos. José nunca mais bebeu. Gabriela, nunca mais apareceu.