quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

(in)Feliz Natal



Era mais uma noite de Natal.
José estava embriagado no bar mais uma vez. Mais uma noite, em mais uma noite de Natal.
Gabriela esperou seu marido inutilmente para uma ceia, que ela tão caprichosa havia preparado a tarde inteira. Filipe chorava em um canto escondido, não queria que mamãe visse que ele também sofria. Afinal, na falta do pai, quem era o homem da casa era ele.
Uma história batida, mas comum em muitas famílias brasileiras: José, desempregado, não arranjando emprego, arranjou um vício pra passar o tempo: o álcool.
Há tantas coisas pra se viciar que são bem mais prazerosas e por que não dizer "proveitosas". Um vício por fotografia, um vício por leitura, um vício por artesanato. Infelizmente, José escolheu o álcool. Ele que desde pequeno disse que nunca seria como seu pai "um bebum fracassado" acabou repetindo a mesma história. Por opção, não por obrigação.
De qualquer forma Gabriela já não queria aquilo. Já não queria aquela casa, já não queria aquelas coisas, já não queria o marido, e (hesito em dizer isso, porque como pode? Ela ser mãe e...) já não queria o filho. Ela queria outros mundos, outras pessoas, outros carnavais. Outros natais.
No dia 25 de dezembro, exatamente a 00:01, Gabriela partiu sem dizer adeus. Não procurou o filho que estava em algum canto da casa, arrumou suas malas e partiu. Deixou apenas um bilhete para José, que Filipe leu assim que ouviu que alguém saia na porta.

No dia 25 de dezembro, exatamente a 10:36, José chega embriagado. Filipe faz-lhe um café forte, nem sabendo muito bem como fazer, enquanto o pai tomava um banho frio. José adormece.

No dia 26 de dezembro, exatamente 08:14, Filipe entra no quarto do pai, encara-o, suspira e diz:
- Você só tem mais uma chance para cuidar de mim.

Filipe só tinha 8 anos. José nunca mais bebeu. Gabriela, nunca mais apareceu.

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